Treinar em vez de ensinar

[Traduzido na íntegra do blog Cold-Case Christianity. Nota ao final.]

57-300x200Em meu último post, elenquei os estudos e publicações que demonstram a saída dos jovens da Igreja. Uma análise circunstancial cumulativa e convincente pode ser feita para compreender o porque de tantos jovens em idade escolar e universitária têm deixado o Cristianismo em um número recorde. O que podemos fazer a respeito? O que pode ser feito? Sempre que as pessoas me perguntam sobre o assunto, eu sempre respondo a mesma coisa. PARE DE ENSINAR OS CRISTÃOS JOVENS. Apenas pare. Sempre que a Cristandade se esforça para ensinar seus jovens, o esforço apenas parece ser um grande fracasso. De fato, Ken Ham (em seu livro, Already Gone: Why Your Kids Quit Church and What You Can Do To Stop It) constatou que Cristãos jovens que fervorosamente frequentam classes bíblicas eram na verdade mais propícias a questionar a autoridade das Escrituras, a defender a legalidade do aborto, do casamento homossexual, do sexo pré-marital, e a deixar a igreja! O que está acontecendo? Eu acho que sei. Está na hora de parar de ensinar os jovens cristãos; é hora de começar a treiná-los.

Há uma diferença entre ensinar e treinar. Treinar é ensinar em preparação para uma batalha. Os boxistas treinam para os combates vindouros. De fato, boxistas às vezes são conhecidos por às vezes engordarem e ficarem preguiçosos até o agendamento de uma nova luta. Uma vez que a data do próximo confronto é definida, os lutadores imediatamente iniciam seus treinamentos. Por quê? Porque eles sabem que provavelmente irão encontram um oponente agressivo no ringue. Nós treinamos quando sabemos que estamos prestes a entrar em uma batalha. Imagine por um momento que você está matriculado em uma classe de álgebra. Se o professor lhe assegurasse que você não seria, nunca, obrigado a realizar nenhuma prova ou teste, e que você seria aprovado independente do seu aproveitamento, quão duro você acha que estudaria? Quão profundamente você acha que viria a entender a disciplina? Quão comprometido você acha que seria com a matéria?

O problema que hoje temos na Igreja não é a falta de bons professores. Há muitos professores excelentes na Igreja. O problema é que nenhum desses professores está agendando batalhas. Sem dúvida, há batalhas iminentes para cada e todo jovem Cristão da Igreja todo dia, mas os líderes das igrejas não têm se envolvido no agendamento dessas batalhas. As batalhas esperam pelos nossos filhos e filhas quando eles chegam à Universidade (ou quando entram no mercado de trabalho secular). A Igreja precisa estar empenhada em agendar batalhas e treinar nossos jovens para estas batalhas. Ensinar sem um plano de batalha é pouco mais que “blá-blá-blá”. Este é o problema com os tradicionais programas de escola dominical [o autor do blog não é Adventista do Sétimo Dia]. São bem-intencionados, informativos e poderosamente apresentados. Entretanto, eles são impotentes, porque nossos jovens ficam sem senso de urgência e necessidade. Não há um plano de batalhas iminentes no horizonte e a batalha da vida na Universidade está longe de ser palpável. Está na hora de endereçar o problema não com nossas classes, mas com nosso calendário. É hora de começar a agendar batalhas para que nossos ensinamentos se tornem treinamentos.

Anos atrás, como um pastor de jovens, comecei a viajar anualmente para Salt Lake City e Berkeley. Por quê? Eu estava agendando batalhas teológicas e filosóficas para ajudar meus jovens Cristãos para a iminente e maior batalha que algum dia eles poderiam vir a enfrentar. Se você quiser ensinar teologia aos seus jovens, não há método melhor do que coloca-los em contato com pessoas que acreditam em uma heresia sofisticada. Mórmons, por exemplo, usam a mesma terminologia como cristãos, mas negam as doutrinas mais básicas de nossa fé. Para dialogar com mórmons de forma eficaz, primeiro precisamos entender o que nós acreditamos. Quando treinamos nossos jovens em preparação para a viagem evangelística de Salt Lake City, demos significado e propósito para o conteúdo de nosso ensinamento. De modo similar, nossas viagens evangelísticas para Berkeley (onde encontramos palestrantes ateus notáveis e grupos de ateus no campus) exigiram que nos preparássemos para responder às milhares de objeções ateístas que inevitavelmente encontraríamos. Mais uma vez, o conteúdo do ensinamento em preparação para aquela viagem tinha um propósito e significado, uma vez que sabíamos que nosso nível de entendimento seria eventualmente testado.

Essas viagens não são fáceis, mas são essenciais. Elas exigem que nós, como líderes, sejamos bons apologistas. Elas exigem que nós, como pastores, priorizemos nossos calendários para que haja espaço para a viagem e para os meses de treinamento. Uma última observação: Eu aprendi a importância desta abordagem em primeira-mão. Meu primeiro ano como um pastor de jovens foi provavelmente o mais difícil. Como um designer de formação, com um grande interesse em artes, gastei meu primeiro ano focando na natureza artística das reuniões dominicais. Incorporei música, vídeo, arte e drama para criar constrangedoras experiências que eram mais entretenimento do que conteúdo. Os jovens que se graduaram daquele meu primeiro ano de ministério não estavam preparados para o que encontrariam na faculdade e todos exceto um deixaram a fé. Isso impactou a forma que exerço o ministério desde então. Comecei a agendar batalhas e treinar os jovens para estes importantes testes. Não me lembro de ter perdido um estudante desde então.

Se quisermos prestar um serviço a nossos jovens, precisamos parar de ensiná-los. É hora de começar a agendar batalhas e então poderemos passar a treiná-los.

(J. Warner Wallace, Cold-Case Christianity)

Nota: Achei este post muito interessante. O apóstolo Pedro, em pelo menos dois textos, foi enfático quanto à preparação e treinamento constante para a batalha que enfrentamos como cristãos (v. 1 Pedro 3:15,16 e 5:8,9). De fato, Jesus treinou seus discípulos para um fim maior, uma missão; tal treinamento foi de base teórica aliada à aplicação prática, de forma a sempre atender os anseios, dúvidas e necessidades dos seus alunos, visando à batalha iminente. Os cultos e classes bíblicas têm seu significado específico quanto à congregação semanal, recapitulação de estudos, louvor e adoração. Entretanto, o fator treinamento, muito bem colocado pelo autor, permite que haja o vislumbre da vida cristã prática, que permite atender os desafios do dia-a-dia [principalmente] dos jovens. O senso de significado e propósito precisam estar latentes, a cada culto, reforçando os pilares de nossa fé. Ellen White, sobre os cultos, afirma: “tomem todos parte na leitura da Bíblia, e aprendam e repitam muitas vezes a lei de Deus. Contribuirá para maior interesse das crianças ser-lhes algumas vezes permitido escolher o trecho a ser lido. Interroguem-nas a respeito do mesmo, e permitam que façam perguntas. Mencionem qualquer coisa que sirva para ilustrar o sentido(Liderança, p. 182). As perguntas, em sentido prático, podem e devem ser respondidas visando o cotidiano e as experiências pessoais.

Nota 2: Apesar de ter nascido em um lar adventista, estudado toda a vida na escola cristã e manter gosto pela literatura e música cristãs, não fui impedido de, aos 17 anos, deparar-me com minha primeira crise existencial sobre minhas crenças. Ao ser bombardeado no curso pré-vestibular com filosofias anti-bíblicas (naturalismo filosófico, evolucionismo, socialismo e etc.), o que se seguiu foram meses (e até anos!) de um ceticismo reprimido. Ao passo que os cultos na maioria das vezes focavam na apresentação e ensinamento de doutrinas, as respostas para as minhas objeções mais profundas demoraram a ser encontradas. Provavelmente, caso houvesse uma abordagem que visasse um real treino para a vida cristã, mediante um “estudo aplicado da bíblia”, os efeitos que a escola secular causou em mim seriam mínimos, ou até mesmo nulos. [JDL]

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